domingo, 4 de setembro de 2011

Mais uma página do livro

No papel apenas o draft mas na cabeça, o todo, o livro. Mais uma página que escrevia, sentida perturbada...

Marta tinha o coração apertado, o seu coração era pequeno para tanto sentir, depois ele, do outro lado do fio por onde seguiam as mensagens de um amor velado, possível, mas ainda embrionário, esperava, a cada mensagem mais sentir, mais carência...começava a cada dia mal se levantava a ir ao computador, ver a sua caixa do correio...e lá estava mais uma mensagem , mais um abrir de coração, as palavras via-se que lhe jorravam do cérebro, mas com o coração ardente. Daquele estilo de mulheres que tanto amor têm para dar mas nunca foram bem amadas, quem as teve nunca viu que poço de amor, que magnitude e capacidade para dar, para oferecer...por vezes pensava, será verdade, estarei a receber estas mensagens, elas são-me dedicadas ou ela apenas escreve, escreve, possivelmente um livro, ao qual tenho o privilégio de ser o primeiro a ler, ainda ele está em bruto, não limado, tal como sai do coração dela, mas todo ele é uterino, febril, capaz de quase me levar ao êxtase...as palavras nunca nos são indiferentes. Imagino-a, com o seu pensamento moldado no meu, com seu corpo moldado também ele ao meu, quente, sequioso de amor, ardente, tão quente como se me quisesse queimar. Ah se eu pudesse...

Por sua vez ela também espera ansiosa cada pequena mensagem que ele egoísticamente lhe retribui...por medo? por incerteza ou por muitas vivências...já não acredita naquele tipo de amor, puro, cândido, que se dá sem nada pedir em troca.
Mas pede, ela pede e muito, mas nada recebe,  está carente, multiplamente carente. Há muito não sabe o que é amor, há muito que ninguém lhe demonstra, não lhe mostra o caminho do amor. E no entanto quando ela pensa nesse possível amor, é com um sentimento, com uma dor, como que uma contracção uterina, que sobe e agasta, dói e em simultâneo dá prazer, como no climax do amor...

Será que este pensamento já não é trair? Quando se deseja alguém que não aquele com quem se vive, não será isso maior traição do que aquela consumada, daqueles que levaram mais além o seu sentir e deixaram que os deleites do amor percorresse os seus corpos mal amados...não só os corpos, mas todo o seu ser. Quando somos mal amados , não é apenas físico, é também a nossa mente, todo o nosso ser.

Ela pensava, porque não queremos todos igual, porque temos de nos contentar com as coisas que não nos satisfazem, com as que não nos deixam felizes...Ah como queria ser amada, mesmo traindo, como queria ter em mim,  o outro, aquele que me deleitasse, me fizesse sentir os deleites do amor...
A mensagem não segue destino, marco-a e faço delete...o que pode acontecer quando nos damos assim, inteiros, sem barreiras, quando nos mostramos ao virtual, o que realmente somos e sentimos se no dia a dia não conseguimos fazê-lo...

Marta acorda, e sente-se frustrada. Mais uma vez tinha sonhado "com ladrões" como costumava referir-se a João para que ambos soubessem do que falavam sem serem explícitos.  Ela sentia que precisava urgentemente de mudar, precisa sair com o marido. Têm que combinar uns dois ou três dias fora de casa. Eles precisam estar sós sem ninguém por perto para que a sexcualidade de ambos, recalcada, volte e se exponha na sua plenitude. Quando o fazem geralmente acontece sem problemas.
Quando não estão em casa,  dormem nus, aconchegam-se sem nunca se forçar a nada, mas logo a excitação de João começa a sentir-se e passam à acção.
Este tipo de situações são muito problemáticas,  já que podem criar problemas e sequelas para todo o resto da vida.

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