sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O amor

Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

Os que amam profundamente

Os que amam profundamente, jamais envelhecem; podem morrer de velhice, mas morrem jovens. O amor é a imagem de Deus, mas não uma imagem da vida. É, isto sim, a verdadeira essência de toda a natureza divina, que fulga em bondade.

As sem-razões do amor


Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.






Cartas a Sandra

Mais um autor com pelo menos um alter-ego. Vergílio Ferreira nunca ultrapassou a morte da mulher a quem tanto amava e passou a viver à espera do fim, como uma inevitabilidade, como fim previsto e até ansiado.
Paulo (alter-ego do autor) passa os últimos dias da sua velhice escrevendo cartas a Sandra, esposa há muito falecida, recordando a sua vida em comum bem como a sua relação com Xana, a filha que muito cedo abandonou a casa de família. É um testemunho pungente,  desesperado, de um homem apaixonado a quem faltou vida para desafiar a morte da mulher amada. Para Paulo o tempo terminara na morte de Sandra. Todavia, para além desse facto ficou o amor, este  perdurou para lá morte de Sandra, mas com uma dor pungente no coração, da qual o autor não mais se conseguiu afastar, ela permanece lá e vai cada dia ficando mais funda, mais cravada no seu coração. À procura de paz na memória de Sandra, Paulo encontra mais e mais sofrimento. Essa memória é sempre incompleta porque é por Sandra, por toda ela que Paulo clama. Pelo seu espírito, pelo seu amor mas também pelo seu corpo e pela sua vida. A melancolia com que escreve,  uma imensa solidão, um perpetuar da falta que Sandra lhe faz, ele não sabe viver sem ela, vive para o amor que ainda mora dentro dele e que o vai alimentando a tortura, no mar de extrema solidão que se tornou a vida de Paulo.Cartas a Sandra constitui, por outro lado, um documento importantíssimo para compreender a personalidade do autor, que vêm em  sequência ao romance auto-biográfico Para Sempre. As cartas, assinadas por Paulo,  são o retrato de uma vida sofrida pela perda dos pais na infância, os anos da universidade, a idade de toda a esperança e força , mais tarde o facto da filha ter tão cedo abandonado a casa paterna, e depois o trágico desaparecimento de Sandra.  O que ficou foi apenas a longa e dura solidão, que irá marcar de forma indelével o final da vida do autor.
O amor por Sandra irá acompanhá-lo até ao fim,  amor quase obsessivo, excessivo e demasiado sofrido, que é simultâneamente tortura e tábua à qual Vergílio/Paulo se agarra ainda à vida, apenas para recordar Sandra.

Vergílio é mesmo assim, muito intímo com a sua alma, com a sua capacidade metafísica que transcende tudo quanto nos deixou nos seus escritos. É como se nos víssemos ao espelho, tal a dor que sente, que sem querer sofremos com ele, e nos reconhecemos em cada palavra. Vergílio nunca tem medo de mostrar o que sente, a dor é tão forte, tão pungente que é como um grito de absoluta solidão. Ele está só, sem Sandra e com ele apenas as memórias desse amor que partiu e o deixou só.
O amor é mesmo assim, nós vivemos nele e para ele, bebemos do mesmo copo, olhamos a mesma paisagem,  e quando nos falta o objecto de amor, damos connosco perdidos num mar de tristeza e angústia, passamos a arrastar-nos na vida, esperando apenas que a vida termine e que o sofrimento termine. É isso que nos mostra Vergílio Ferreira, autor que leio e releio sem me cansar, com quem me identifico em muito do que sente e que tem reflexo em mim, “havia em ti divindade bastante para estar certo o que me doesse”…

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Amar!


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


sábado, 24 de setembro de 2011

É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas




“É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas.
É tão silencioso.
Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois?
Dificílimo contar.
Olhei pra você fixamente por instantes.
Tais momentos são meu segredo.
Houve o que se chama de comunhão perfeita.
Eu chamo isto de estado agudo de felicidade”.



Clarice Lispector

Se sou amado

Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.

Se sou esquecido,
devo esquecer também,
Pois amor é feito espelho:
-tem que ter reflexo.

O amor é uma companhia


O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
                                     Alberto Caeiro

Hoje de manhã saí muito cedo

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.
                    Alberto Caeiro

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


É assim que te quero, amor

É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

O Amor


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..

O amor ou a liberdade?



"O que é mais importante: o amor ou a liberdade?
Sempre coexistiram: serão realmente antagónicos, ou verdadeiramente simbióticos? O amor, essa palavra indizível para tanta gente, é a liberdade de ser. A plenitude do ser.
Quem tem medo de amar é que não conhece a liberdade."

in Pesquisa Sentimental, de José Couto Nogueira, Pág. 340

O que mais me surpreende na humanidade, são os "homens"

Foi perguntado  ao Dalai Lama sobre o que mais o surpreendia na humanidade, ao que respondeu :

"O que mais me surpreende na humanidade, são os "homens".

Porque perdem a saúde para juntar dinheiro.
Depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.

E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente , de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro.

E vivem como se nunca fossem morrer...
... E morrem como se nunca tivessem vivido."

Dalai Lama

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Compositor contemporâneo que adoro!

Há uma rosa linda


Há uma rosa linda
No meio do meu jardim
Dessa rosa cuido eu
Quem cuidará de mim?
De manhã desabrochou
À tarde foi escolhida
Pra de noite ser levada
De presente a minha amiga

Feliz de quem possui
Uma rosa em seu jardim
A minha amiga com certeza
Pensa agora só em mim
Quando sopra o vento frio
E o inverno gela o jardim
Eu tenho calor em casa
E fico quietinho assim

Feliz de quem tem o seu tecto
Pra ajudar a sua amiga
A fugir do vento ruim
Que deixa gelado o jardim

 Bertold Brecht


 

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Hoje estou triste, choro dentro de mim



Hoje sinto minha alma triste, tenho vontade de chorar, desejava que as minhas lágrimas que derramo sem sentido, me lavassem a alma, me tirassem os desenganos, a tristeza da alma. Queria que tudo se purgasse em mim, me esvaziasse, para poder renascer. Queria que este rio de choro me lavasse todo o sentimento, toda a dor e parasse de sentir esta tristeza avassaladora, este desalento, este desencanto.

Choro de tanto sentir, porque hoje estou triste e dentro de mim, voltei á minha concha, estou enrolada, uterinamente enrolada, dentro de mim. Hoje não quero sair, quero ficar aqui, sem que ninguém me mova, e possa permanecer neste recanto de mim, perdida, na solidão desta tristeza do desengano, do desencanto.
Estou triste, que querem, nada posso fazer. nada pode vir sobre mim e arranca-me este negrume da alma. Hoje estou triste e pronto, choro e nem sei bem porquê, ou sei?

O que importa

Quando a morte acontece nos quatro cantos do Globo por razões diversas, atentados, guerra, e a pior de todas, aquela a que não se pode fugir, o genocídio lento de populações inteiras que vivem subjugados a ditadores predadores e insensíveis e que morrem de fome aos milhares, quando quem os governa bebe por copos de ouro.


Porque a vida é tão injusta e cruel para tantos que não tiveram o poder de escolha pelo sítio onde nasceram e que ao tentarem sair desse degredo de morte são vítimas de afogamento e da maldade e insensibilidade dos homens que governam e que, todos sem excepção, mesmo os que são eleitos em eleições livres, todos querem rasar a divindade e todos sem excepção querem sentir dentro de si esse poder, esse sentimento  corrompido que os leva à destruição enquanto pessoas, à perdição!


Por esse motivo e porque infelizmente o mundo à minha volta não me é indiferente, vamos celebrar, um pouco egoisticamente também, a paz que apesar de todas as troikas e abusos de poder mal são eleitos, as coisas simples da vida e vamos buscar inspiração em pessoas que vivem simplesmente as suas vidas, um dia de cada vez, numa quietude mansa mas não indiferente.


São as pequenas coisas da vida, que recordamos para sempre e que ficam registadas nas nossas múltiplas memórias. O cheiro do bolo da avó, a roupa acabada de lavar e a cheirar a alfazema, a cera dos soalhos acabada de esfregar e que espera pelo puxar de lustro, as barrelas das dias de festas, em que as casas eram viradas do avesso para tudo estar limpo e cheiroso para receber o nascimento de Jesus ou a sua crucificação.
São essas pequenas coisas, recordações, sentidos que ficam para sempre registados, como o prazer, o ou os livros que nos levaram ao paraíso, a música que nos faz bater o coração, um dia de chuva com o céu azul clarinho e os raios de sol a passarem, com uma luz difusa, que nos leva a pensar como seria o dia da criação. Um pôr de sol, junto ao mar, que mal se distingue onde é a linha do horizonte, de tanto púrpura, céu e terra, misturam-se numa fusão de ardor, lindo de morrer.


Luxos, consumismos, falsidades e enganos, tudo passa, tudo tem um fim. O que importa mesmo são os deuses das pequenas coisas do nosso quotidiano, que nos marcam para sempre e a quem temos que agradecer pela dádiva da vida. O que importa mesmo é o nosso sentir, isso ninguém nos pode tirar, porque podemos sempre sonhar, mesmo que o mundo à nossa volta caminhe para o Caos. Os antigos gregos julgavam que o mar era o caos, porque era profundo e quando os barcos dos seus guerreiros afundavam, poucos se salvavam. Acreditavam que o deus dos mares os castigava porque o pouco mar que conheciam era próximo...o desconhecido era o caos. Hoje já não há desconhecidos, tudo se passa à distância de um clic, no entanto, o mundo caminha para o caos, para a perdição.

domingo, 18 de setembro de 2011

Porque eu sou do tamanho do que vejo

"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura."
Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontâneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo.
"Sou do tamanho do que vejo!" Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. "Sou do tamanho do que vejo!" Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se reflectem nele e, assim, em certo modo, ali estão.
E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. "Sou do tamanho do que vejo!" E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte.
Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia.
Mas recolho-me e abrando-me. "Sou do tamanho do que vejo!" E a frase fica sendo-me a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer."


Bernardo Soares, heterónimo de Pessoa in "Livro do desassossego

Chega de Saudade

Chega de Saudade

Vai, minha tristeza, e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe, numa prece, que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade, a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas, se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim
Vinicius de Moraes

sábado, 17 de setembro de 2011

Uma música

Uma música para vocês, que vos dedico.



 

Pintura

Sabem que adoro a escrita e através dela podemos sonhar, e criar uma realidade que mais ninguém conhece. Aquela onde nos entregamos num diário, num blog, escrevendo de forma incógnita, em fóruns onde escrevemos undercover, usando um nome falso ou um por nós inventado. Sei lá, onde quisermos. Até no nosso próprio PC, escrevendo ao sabor, não da pena..., mas do teclar, até darmos forma a algo, um inédito, algo que nos sai da alma, onde fazemos jorrar numa catarse sem fim, tudo o que nos vai na alma. Escrevo pelo meu muito sentir, tenho um coração demasiado jovem para ao meu corpo de mulher quase madura, sou uma incorrigível "adolescente"sempre  in love. Mas não me apaixono por este ou por aquele.

Paixão e amor precisam ser "alimentados" com beijos, carícias, sexo, muita partilha e acima de tudo "e" na minha opinião..., olharem os dois na mesma direcção e não apenas um para o outro. E esse amor está todos os dias comigo, já que aquele que me acompanha, o cultiva.

Escrevo porque de vez em quando me dá uma certa pancada por algo ou alguém, dá-me para ficar numa espécie de feitiço, de um possível sentimento, uma atracção. Imaginem vocês que  nada tem a ver com o amor físico, os beijos e abraços, não, é antes de mais, muito mais profundo, quando por uma qualquer razão encontramos alguém que tem uma mente semelhante à nossa, por exemplo num livro.
O escritor consegue pela sua teia de palavras, pelo seu fio de raciocínio, levar-nos para outra dimensão e nós, lendo e relendo o livro, conseguimos entrar na cabeça desse escritor e ou ainda não lemos a seguir e quase adivinhamos o que lá vai estar escrito ou se já conhecemos, nos deleitamos pela escolha feita.

É por isso que escrevo, no fundo sou uma Libriana, com ascendente em Virgo, dois signos de amor e paixão...e sou casada com um Virgo. O amor, quando ele acontece é fogo que arde sem se ver!

Falei-vos do motivo da minha razão de escrever, porque vivo em permanente "amor"...o meu signo é  Ar e o ascendente Água, um que se perde por paixão outro que é fiel e constante, organizado e sabe o que quer para ele e para a vida. Eu não, sou mesmo Libra, não sei nada, só sei que nada sei e que tudo quero aprender, que amo ao próprio amor, ao estado de paixão, ao estar apaixonado e até ao sofrimento do amor. Absurdo, talvez, mas sou assim, um turbilhão como pessoa, muito irreverente e impossível de contentar se não acho a minha verdade. Imatura mesmo na meia idade, e uma romântica incorrigível.

Pena é que por vezes aquele encantamento que tínhamos por alguém, se desvanece e não por nossa culpa, apenas por pequenas coisas, falta de estímulo, alimento, sim, porque o intelecto também se alimenta e de belas palavras, de acarinhamento de compreensão...e depois o nosso foco começa a escolher outro objecto de paixão  e aí o interesse murcha, qual rosa que nos foi oferecida uns dias antes,  mas que desde que tinha sido cortada da roseira, estava condenada...tudo na vida  se o queremos prolongar, temos de o alimentar. Tal como a nossa longevidade, não podemos querer ter vida longa se atentamos todos os dias contra a  nossa saude, mas se pelo contrário tratamos o nosso corpo como um templo, então, é de esperar que o Universo nos conceda uma longa vida.

Para além da escrita, tenho muitas outras paixões, uma delas, da qual já vos falei  através de Carmen Herrera e Klimt, é a pintura. Sou doida por pintura e alguma escultura. Não entendo e nem quero entender a escultura de monos de metal e outros de pedra, quando olho para aquilo e parece um monte de sucata.
O que amo tem que soar, ribombar cá dentro como um trovão, tem que me tirar o fôlego como depois do amor, num acto longo e contido e com um final explosivo. Tem de entrar dentro de mim como um raio, fulgor e deleitar o meu olhar e acima de tudo o meu perceber, o chegar lá.

Vou trazer-vos as minhas paixões em termos de estética. do que chamo o belo. E o belo pode ser uma paisagem, o voar de uma gaivota, um cacilheiro numa manhã de nevoeiro a navegar nas águas do nosso belo Tejo.

Hoje vou deixar-vos, tenho outros e prementes afazeres dos quais não me posso apartar, fazem parte da minha vida, da que construí até aqui, mas deixo-vos com uma das minhas paixões, o Gustav Klimt. Que amo de paixão.









A doçura da pintura, é absolutamente surreal. Não vos deixo o quadro o beijo, porque já o coloquei atrás.

Tenham um bom sábado e amem demais, porque só demais vale a pena!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O livro "Pesquisa sentimental" de José Couto Nogueira






"Não é fácil esquecer este livro, ele fala-nos de um problema que todos nós vivemos, não falo de pesquisas sentimentais ou busca da felicidade, qual Santo Graal da vida, porque esse é que é o Graal, não. Falo-vos isso sim, da solidão que tantos vivem no seu dia a dia e que Alex vive. Ele nunca se deixa iludir, ou melhor ele deixa-se aturdir pelo que vai vivendo, mas ele entrega-se à filofax e tem até vergonha por exemplo das palavras que Delfina lhe dizia enquanto se amavam. No fundo o Alex é quase um puro, ele acredita que ainda encontrará o amor, por isso continua a sua pesquisa sentimental.
Este livro  no qual a cada leitura vou descobrindo novas coisas, palavras nas entrelinhas, vou desfazendo uma teia, tal como a de Penélope que esperou vinte anos pelo seu Ulisses. Ela tecia durante o dia e desfazia à noite, para enganar os pretendentes que queriam o lugar de Ulisses. Também nós, podemos ir desfazendo a teia que José Couto Nogueira deixou, para os que mais fundo lêem, e a possamos desmanchar. 
Através das entrelinhas e das lágrimas de solidão que vou sentindo cair, embora o autor as não escreva, elas estão lá, são gritantes. Isso leva-me a crer que muitos homens que andam de cama em cama, que vão fazendo as suas pesquisas sentimentais, fazem-no porque procuram, não apenas  sexo, não mais uma, mas aquela, "a"...

Neste livro, o autor que nos conta através dos seus escritos registados numa filofax, as suas impressões mais profundas, como que o registo de uma pesquisa,  de um estudo, ele não se entrega, nós é que temos de o encontrar, porque ele está lá, mas não é Alex. Este é apenas o instrumento que José Couto Nogueira usa para nos mostrar que também os homens sofrem de amor e de solidão, e que até percebem muito do universo feminino.

Eu vivo para dentro, quem escreveu  o livro, também vive, é muito interiorizado, muito observador. Também Alex  não gosta de comentar as suas aventuras apesar dos incessantes pedidos dos amigos.  Contudo,  eu sou capaz de dizer o que sinto, mesmo aqui neste blog, sem medos, onde vos afirmo que adorei o livro e que ele me causou sensações.  

O autor  que está dentro da cabeça de Alex, é sempre parco em pormenores sobre ele, sobre o seu interior...ou melhor, sobre Alex, não confundamos as coisas, ele retrai-se, como que tendo medo de se revelar demais.

José Couto Nogueira usa a língua com preciosismo e com metáforas incríveis, como comparar a altura de um prédio a uma torre eólica, por exemplo. Usa muitos vocábulos sobre sexo, a vida de noite, muitas palavras de gíria, mas nunca há vulgaridade na sua escrita. A forma de escrita é diferente de personagem para personagem. Retrata bem a sociedade de uma certa classe média alta lisboeta e não só. E fala-nos da nossa Lisboa e dos seus bairros, com alguns pormenores, mas sem abusar na descrição.

Este livro é sobre o percurso de alguém que ama muito e com facilidade...os homens nunca se prendem como as mulheres, como nós mulheres nos prendemos e nos deixamos levar muitas vezes por um engano. As mulheres mesmo no orgasmo são diferentes.  Eles ejaculam porque acima de tudo está neles a capacidade de fecundar os óvulos que elas carregam.  E a ejaculação é simultâneamente o acto de criação e de prazer.
Mesmo os mais velhos têm a capacidade de procriar, embora menor, enquanto que as mulheres têm a tal capacidade de criação, muito mais restrita. Essa é para mim a maior diferença que existe entre o homem e a mulher.
No acto de amor, as mulheres precisam de estimulo, de carícias, precisam sentir o crescendo dentro delas...é algo uterino, que no clímax do amor, ou do sexo como muitos dizem, lhes provoca um misto de prazer e de dor na barriga, precisamente onde se encontra o útero. Já ao homens não...é tudo muito mais fácil e depende apenas do sangue nos corpos cavernosos do seu sexo.

Este livro, que releio de tão bem escrito, é uma mensagem do autor, é quase um grito de solidão, porque  sem dar por isso, ele chora nas entrelinhas, ele fica só, nem podemos considerar que seja predador, obcecado por sexo, não.  Ele faz uma busca, ele procura  por todos os meios, o amor e a felicidade. Como eu o compreendo. Quem não o procura?

O livro tem muito de sexo explícito e podem crer,  provoca algumas sensações físicas, dadas as descrições do autor, sobre o corpo feminino, sobre o acto em si.  Contudo,  é um livro que nunca é vulgar. Pelo contrário, apesar de falar sobre um assunto que poderia tornar-se vulgar, como muitos outros que tenho lido, este não, por vezes devo dizer-vos que é sublime.

O autor retrata os ambientes e as pessoas, como se estivéssemos a ver uma fotografia. Ou ainda melhor, como se  estivesse a escrever teatro e cada cena que vamos lendo é um cenário, descrito ao pormenor, ou a descrição de um quadro que o pintor vai pintando,  cada pincelada é sublime na palavra de Couto Nogueira. 

Adoro a maneira como descreve o corpo feminino e as alusões que faz, sobre o sexo da mulher e o liga à  origem das coisas, o nascer, o início de tudo. Acho fantástico como ele consegue ser  tão real e belo ao mesmo tempo.
Demonstra um enorme conhecimento do autor pelo ser feminino, muitas vivências, muitos anos de procura desse tal amor... são muitas experiências que certamente viveu, pelo menos algumas,  e refiro viveu porque as descrições são extremamente sentidas, são pungentes, palpáveis e o autor revela-se em algumas de forma quase explícita,  sem dar por isso. Não quero dizer que seja auto biográfico, não, isso não, demonstra isso sim é que o autor já viveu muito e dessas experiências e da sua muita capacidade criativa, deu forma perfeita a Alex, que pode ser um entre muitos que por aí andam pela sociedade.

Alex não é amorfo ou burro,  pelo contrário, é muito inteligente e é isso que faz com o que livro não seja absolutamente nada vulgar.  Mas não só, o percurso dele pelo livro, mostra-nos um homem de carácter que apenas ama demais, ele deixa-se levar pelo prazer e pela necessidade de o ter, pelo diferente, mesmo correndo perigos...ele está sempre a correr perigos.
O que tem piada é  que na minha primeira leitura, achei que não havia nada de pessoal do Couto Nogueira, engano meu, hoje saboreio cada linha e releio, volto atrás e encontrei-o.  Ele está lá, bem no fundo, porque ele procura o amor e a felicidade como qualquer um de nós. A minha primeira recensão deste livro, é absolutamente diferente desta, porque este livro não pode ser lido levianamente, isto é, de forma rápida e sôfrega como fiz a primeira leitura. Tem de se saborear e ler-se devagar.

Adorei e estou a adorei relê-lo...certamente não será a última vez, leio muitas vezes os livros que me dizem muito, e este, é certamente um deles. "

Foi esta a crítica que fiz, no blog do livro. Fi-lo com convicção, e continuo a dizer, este livro causou-me um turbilhão de sentiimentos!!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Carmen Herrera

Acho que já aqui disse, e virando uma página nas minhas leituras que ficaram para trás, que adoro pintura.
Também desenho e pinto (pinto a manta...às vezes!, quando me deixam!).
Mas tenho verdadeiras "paranóias" por alguns pintores, mais modernos, ou abstractos, não tanto outros embora adore os impressionistas e goste também dos surrealistas.
Hoje o meu blogue tem por fundo uma pintura de Carmen Herrera, uma cubana de noventa e muitos anos e que vendeu o seu primeiro quadro quando já tinha oitenta e muitos!!!
Adoro a pintura dela, do estilo que faço desde os meus 10 ou 11 anos, mas que julgava apenas desenhos geométricos porque foi assim que me ensinaram. Afinal tem valor maior.

Deixo-vos alguns, se quiserem saber mais, vão investigar sobre ela. Depois que foi descoberta diz que passou a ter uma vida de inferno. Vive com auxílio do dinheiro dos quadros, de outro modo estaria num lar e é uma das coisas que agradece à "vida/sorte" por ter sido descoberta. Hoje é considerada uma das maiores pintores do séc. XX ainda viva.

Quando era bem mais nova! Bem bonita!

Mais velhotinha.


Como é agora aos 95 anos.





Belos quadros e bela cabeça que os cria, e as mãos que lhes dão forma!
Porque a vida, se formos a ver, são fluxos matemáticos...já pensaram nisso? Mas é verdade, até o que vivemos e sentimos, são explosões matemáticas de adrenalina, serotonina, e coincidências que se conjugam em equações, sistemas e por aí fora...

É melhor ser alegre que ser triste

É melhor ser alegre que ser triste
A alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração...
E a tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste, não...
A vida não é de brincadeira, amigo,
A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida...

Vinícius de Moraes

Cada um que passa em nossa vida passa só

"Cada um que passa em nossa vida passa só, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só. Leva um pouco de nós, deixa um pouco de si. Há os que levaram muito, mas não há os que não deixaram nada. Esta é a maior responsabilidade de nossa vida e a prova de que duas almas não se encontram por acaso..."

Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

PESQUISA SENTIMENTAL, de José Couto Nogueira

O que ficou da minha crítica inicial, feita em 29 de Agosto, depois da segunda leitura:


Tal como vos tinha dito, comprei o livro de José Couto Nogueira, "Pesquisa sentimental".
Li o livro quase de um sopro...sem reter todos os nomes das personagens que vão para além de Alexandre (o Alex), numa segunda leitura  já mais calma, as personagens mais importantes  desta história,  são a Delfina, a Isaura, a mulher de Alex, bem como a última mulher do romance, a Mariana. 
Depois desta minha segunda leitura, o que "ficou" em mim desta Pesquisa Sentimental (frase usada por Alex, para justificar o seu comportamento):  

Há um grupo de amigos, mas não lhes fixei o nome. Existem  muitas mulheres, que irão desfilando na incrível pesquisa feita por  Alex. Este procura o quê? Alex vive numa  permanente  busca da felicidade e de uma vida emocional e profissionalmente estáveis, enfim o que se chama um bom casamento, com alguma prosperidade e boa vida social.

O que é importante  no livro, é a procura de Alex, essa incessante busca pela felicidade.
As mulheres com quem se vai relacionando, a companhia de amigos e colegas de trabalho, numa enorme depravação noctívaga, são apenas acontecimentos necessários neste seu  percurso, na sua busca.
Alex  vive uma grande dualidade, se por um lado ele procura essa vida estável que poderia ter obtido com Isaura, com quem foi casado,  por outro lado, a depravação das suas saídas nocturnas, as idas a bares e a procura de sexo fácil sem compromisso. Mas também por estar só, quase num abandono de amor quando a Delfina desaparece de cena.

A dualidade de uma vida desregrada e sem valores sociais ou familiares,  em que as pessoas pouco ou nada escondem do físico e de si próprias, com facilidade de drogas, de álcool,  noitadas, sexo e mulheres fáceis, tudo se  mistura numa amalgama terrível,  e Alex apenas quer viver ao máximo,  essa depravação. O gozo físico e o abuso de tudo, coca, psicotrópicos, álcool, mulheres, tudo faz parte do carpe diem de Alex.

Este romance é diferente daqueles a que nos habituámos,  porque  é narrado por um homem, o José Couto Nogueira e a história que nos é contada é sobre outro homem, talvez um alter ego do próprio escritor, também ele casado e divorciado, no entanto não creio, ao contrário de outras críticas que li,  que tenha traços auto biográficos.

Este livro  é diferente,  em  primeiro lugar e na minha opinião, entenda-se,  está subjacente a influência de Henry Miller, neste "Pesquisa".  Creio que José Couto Nogueira leu Henry Miller muito jovem  e terá ficado encantado com esse  escritor, notando-se a influência de Miller,  no romance.  Quem leu Sexus e Plexus, sabe do que falo. Por outro lado é um homem que nos narra o que outro homem deseja, sente, vive,...e nós ao longo do livro verificamos que Alex sofre, até certo ponto, sofremos com ele.
Alex deseja uma vida com uma vida amorosa legítima e permanente, é isso que ele procura incessantemente ao longo do Pesquisa. Ele teve-o  com Isaura, com quem foi casado, só que o amor que sentia por ela não era o amor que Alex queria, ele queria sempre mais e diferente, creio mesmo que ele nem sabe bem o que quer.

Nas suas deambulações nocturnas vai tendo inúmeras experiências, na companhia dos seus amigos e colegas de trabalho, e acaba conhecendo Delfina.  
Delfina proporciona-lhe um prazer carnal que talvez não tivesse no casamento,  e Alex deixa-se levar pelo repentino sentimento, e por esse súbito desejo de viver com Delfina, uma dançarina , actriz e cantora, que o encantou logo num primeiro encontro.  E Alex vive Delfina até à exaustão.  Mas o que ele procura é a estabilidade de uma vida familiar mas com "a mulher" que o completará, o emprego estavel e uma boa vida social.
Essa é a vida que Alex ambiciona, com uma família estruturada e estável . Por outro lado, há o Alex predador, e com  Delfina ele sente-se livre, não há barreiras nem pudores. 

Alex  tem atitudes nobres, como quando decide assumir as despesas do apartamento onde vivia com Isaura, sua ex-mulher,  já que pelo divórcio é ela que fica com ele. Situação esta de pagamento de um apartamento pelo ex marido, só possível em determinadas profissões,  talvez por isso o autor quisesse fazer crítica social, a uma  sociedade que vive muito acima da média, mas sem regras nem lei.

Alex irá sofrer porque se julga mais uma vez apaixonado por Mariana , a filha de um rico empresário,  o Avelar Barbedo, que escorraça Alex porque o julga um oportunista à caça de fortuna fácil, à custa do seu nome e da sua fortuna.  Também  Mariana, não quer casar com ele,  a  ela só interessa o sexo, ela não precisa de ninguém, é independente e bem sucedida. Nem tão pouco precisa casar com Alex para ter posição social, ao contrário, seria ele a lucrar com esse casamento.  Ele perde-se  na pesquisa desse amor e dessa vida que procura e nós acabamos por ter pena dele.  Alexandre nunca é oco ou vazio, ele é  um homem só, e a solidão dói-lhe na alma.

O escritor   quis demonstrar essa diferença entre eles,  até na necessidade de  assistirem a filmes pornográficos.  Para Alexandre é apenas um passatempo, por não ter mais que fazer, para os outros o momento de masturbação.
E é através da pornografia assistida que Alexandre encontra Delfina, como livre mas não prostituta, como um ser diferente, irreverente e que por vezes assusta Alex com a sua crueza de linguagem.
Alex procura o ideal, mas o ideal é apenas uma definição, procura ideais nas mulheres com quem se cruza. Mas o ideal dele, é no fundo aquilo que o irá completar enquanto homem e não poderá ser qualquer pessoa, não apenas bonita e esbelta, mas inteligente e os seres inteligentes, por vezes comungam melhor espiritualmente do que fisicamente. Ele quer beleza física e mental, todos nós sabemos que a beleza física é éfemera...passa como um raio. Todos somos bonitos quando jovens, e depois o que fica é um aura dessa beleza, nuns, noutros apenas resquícios por a vida levou a beleza.

Numa primeira leitura ,  espantou -me  a facilidade com que Alex se apaixona, ele vai de uma para outra com uma facilidade incrível, um autêntico D. Juan.
Numa segunda leitura, já mudei de ideia, porque Alex vive na procura da sua felicidade, não importa o quanto isso lhe vai levar, em tempo e mulheres que conheça. O que lhe importa é encontrá-la e quando isso acontecer, ele vai parar.  

Alexandre é no fundo um puro, surpreende-se  e até se envergonha com as palavras "ordinárias" que  Delfina lhe sussurra no acto do amor,   com a facilidade com que ela, recém apresentada a ele, lhe  deu  prazer físico  num felacio, depois a disponibilidade desta para sexo a qualquer hora,  para ser exibida a amigos e conhecidos.
Essa Delfina é para Alexandre um ser ambíguo que o assusta e o encanta, há sempre a dualidade de sentimentos em guerra dentro de Alex. Ele sabe que ninguém aprovaria tal ligação, mas deixa-se levar pelo amor físico e pelo encanto que tem por Delfina, porque à sua maneira, também ela é pura, mas não no sentido real da palavra, de certa forma como ser livre e sem preconceitos.

Quando embrenhado nos seus pensamentos e quando regista no filofax as suas notas, ele próprio acha Delfina um pouco demais, como se esta não tivesse lei nem roque, sem limites, mas sem maldade, porque Delfina é uma sobrevivente e não uma depravada.

É isso que José Couto Nogueira nos demonstra, ela de certa forma é pura, porque não vê mal em nada, como se não existissem leis da sociedade e ela fosse apenas um cometa que trespassa essa sociedade de forma única.
Enfim, no final,  Alex fica só, sem mulher, vazio de amor, mas com desejo de continuar a “pesquisar”..a procurar "aquela" a "tal", que julga existir mas ainda não conheceu.

Esta  “Pesquisa Sentimental” escrita de forma leve, de leitura fácil e agradável, por vezes usando uma linguagem um pouco vernácula, mas que é importante no contexto em que se desenrola o romance, com bom dialogo,  é no fundo, prática corrente na nossa sociedade.
É talvez o melhor retrato da sociedade, não  apenas portuguesa, mas ocidental. O escritor usa a escrita com mestria, utilizando metáforas e cada personagem tem uma linguagem própria, nunca é igual, consoante a personalidade do personagem, assim  Couto Nogueira  lhe dá uma dicção própria.

A evidenciar a influência de Henry Miller, não apenas na escrita, mas também no conteúdo, a ausência de  contenções,  alguns pormenores que o autor poderia ter referido, como por exemplo uma qualquer conversa sobre Sida, sexo seguro,  uma doença gravíssima que matou milhões em apenas trinta anos, um flagelo do último quartel do século passado até à actualidade e  ainda a muita promiscuidade. Mas isso é apenas um pequeno senão em tão bela escrita, só passível de registo dadas as alarmantes notícias e registos de mortes.

Todos eles saltam de uma mulher para outra, e por isso é por demais evidente a exploração do feminino, que não tem outro meio de subsistência para sobreviver.
Acredito que também aqui, José Couto Nogueira quisesse mostrar a depravação de uma certa camada da nossa sociedade, que explora  só porque tem dinheiro e poder, assim, o escritor faz mais uma vez  crítica social.

Ao contrário do que tenho lido noutras críticas, a minha segunda leitura de algumas passagens que acho muito pertinentes, não me fez perder o encanto por Alex, mas fez-me sentir pena, porque ele vive numa solidão que dói, na absoluta pesquisa que faz da sua metade. Todos nós temos um pouco do Alex dentro de nós, um pouco da Isaura e até da Delfina...da Mariana.

No fundo José Couto Nogueira soube de forma ímpar, lidar com os personagens e dar-lhes, de uma forma extremamente criativa,  caracteristicas únicas  e essas são fruto das suas vivências. Ele observa o mundo ao seu redor, regista os comportamentos, os caracteres, e os rostos...Alexandre  procura sempre o rosto de quem ama no seu clímax, porque nesse momento há entrega total e é aí que transparece quem é quem...
Alexandre  vive um certo desencanto com a vida,   como se não houvesse futuro para ele, tudo tem de ser vivido no momento até à exaustão, de forma total.  E cada dia uma nova conquista,uma novo virar de página na incessante pesquisa sentimental, na busca pela felicidade que ainda não encontrou. essa relação estável,  a que o irá completar. E a pesquisa continua.

O livro é ainda, um feixe incrível ou melhor dizendo ele tem como que um tecido, que o autor vai tecendo, ele, José Couto Nogueira, dos escritores mais criativos que tenho lido nos últimos tempos, e volto a repetir, que me era em absoluto desconhecido, dizia, ele está subjacente nesse tecido. Ele não está exposto, nós temos de o encontrar. Olhando a fotografia do autor, na lombada da capa, encontramos o que eu encontrei no livro, um olhar firme, brilhante mas triste.  Não acredito como outras pessoas que já o tinham descoberto há mais tempo, que este livro seja auto biográfico, mas tem certamente muito do seu viver, quem sabe se da sua própria procura do cálice da felicidade...aquele que todos nós buscamos e muitos nunca encontram.  Mas é de uma criatividade que nos deixa estupefactos e para além disso demonstra um homem muito inteligente, vivido e conhecedor da sociedade que o rodeia, e que regista ao pormenor.
Tenho por hábito reler os livros que me falam à alma e este é  certamente um deles e garanto-vos que encontrei o José Couto Viana dentro dele, consegui como que acompanhar o seu compor da pintura final a cada estocada do pincel na tela, que foi compondo este belíssimo quadro. Que voltarei a reler, isso não tenham qualquer dúvida.

Recomendo o livro, quando mais não seja para nos encontrarmos nós também lá dentro, um pouco deste e daquele, porque no fundo acredito que José Couto Nogueira nos quer mostrar é que nós mortais, passamos o tempo do nosso percurso tão frágil e rápido, qual passagem de um meteorito em termos estelares, à procura da outra metade da nossa moeda...aquela que nos completa. Por vezes até podemos encontrá-la, mas também por vezes esse encontro já é tardio e apenas nos deixa a solidão, ainda mais profunda, mais triste. Porque a vida não se compadece,  os anos passam, nós envelhecemos e todos temos uma história, um percurso único, nem sempre a nossa metade, mesmo que encontrada, será o nosso final.
Espero que Alexandre encontre a sua, e possa ser feliz!!

Perguntando a José Couto Nogueira que me era absolutamente desconhecido e cuja escrita passei a adorar, para quando o quarto romance? Já está na forja? Esperemos que sim...mal posso esperar!