sábado, 3 de dezembro de 2016

Há dias em que acordo com o sol dentro de mim



Sou assim, passo meses sem aparecer, de repente sinto urgência em partilhar. Tenho outros sítios onde partilho, mais pessoais.
Preciso vir aqui mais amiúde. É como uma pequena catarse. Ou como uma hipotética consulta com o psicólogo, onde apenas aliviasse o peso que carrego e é tanto.

Sabiam que colecciono pedras? Tenho sacos e cestos delas. Tenho muitas, porque elas simbolizam os dias, as semanas, os meses os anos onde imperou a dor e o sofrimento. Mas nem sempre assim é. Há dias diferentes!! Os melhores, quando estou só, posso dispor do meu dia e fazer o que quero. O sofrimento, a angústia aparecem com os outros, porque eles me recordam, eles são a personificação do meu falhanço!

Há dias em que acordo com o sol dentro de mim, mas por vezes esse sol perde-se e a tarde é a mais tenebrosa das provações. 
O que quer dizer que podemos estar bem, mas sempre acontece algo para nos virar do avesso, para nos tirar o chão, desviar do caminho....especialmente quando vem de quem vem....cada dia acredito menos, cada dia me fazem desviar mais do caminho luminoso que queria para mim. 
Há sempre quem nos agrilhoe pesos nos pés e nos lance de mãos atadas,  ao mar.
Difícil encontrar um deus neste torvelinho. Aquele que eu preciso hoje e sempre mas está ausente de mim. 
E apenas o encontro na grandiosidade deste universo.
Como pode deus existir? Estaria certamente muito distraído  ou ele próprio dopado e de olhos vendados e membros em grilhetas, porque de outro modo estaria mesmo muito distraído.
A minha vida e aquilo que tantas vezes critico ou é um suplício, é para outros um paraíso inatingível.
Há seres humanos, mas não somente, há seres, gente e animais, que apenas nasceram para sofrer.



Tudo é tão pouco!

Olá, a quem aqui passa!
O blogue vai mais uma vez mudar de nome.
Sem apelos nem agravos, teve o seu tempo. Mas é algo ligado às leis. Eu quero algo universal.
Que possa reflectir o que em mim vai de tão grande e ao mesmo tempo tão pouco.
Por isso e a exemplo do poema de Pessoa, vai chamar-se : " Tudo é tão pouco"!
E não é??
A minha vida daria não um mas vários livros e todos seriam enormes, tristes e solitários, doloridos e por vezes com explosões de êxtase perante a beleza do que meus olhos contemplam, mas mesmo assim, uma vida já grande, para lá das seis décadas e todavia, tão curta.
Uns dias gostaria que fosse eterna, outros que terminasse ali.

Por isso mudei. Porque precisamos de mudar, estar estático não leva a lado nenhum.

Maria




"Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada."

Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Felicidade é uma questão de escolha



Felicidade é uma questão de escolha

“A vida de todo ser humano é um caminho em direcção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro.”

in «Demian» de Hermann Hesse




Podemos ter momentos de felicidade. Mas esse conceito tão em voga faz parte das modas e livros de auto ajuda. Há muito quem pregue para poucos e se convença que é para milhões. Infelizmente a maioria dos mortais humanos e animais nunca vai sequer imaginar o que significa "a felicidade é uma escolha"..... e para mim, entenda-se, nada tem a ver com posses materiais, metas atingidas, riqueza. Tem a meu ver, com o nosso íntimo e a paz interior que conseguimos atingir num mundo de infernos. Poucos lá chegam. Assim como milhões se convencem que vivem e apenas respiram para vegetar. Aí é que está a diferença das pessoas. Não na cor de olhos ou cabelo ... ter muito ou pouco. Tudo fica cá e se hoje tem valor, amanhã é sucata, terra, tijolo....areia. Só o que está na nossa mente tem valor e nos pode fazer almejar o estado de paz e felicidade !!!

Foto: Charlot ( Charlie Chaplin)

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O poder do Agora e os agoras do nosso passado

Dizem os antigos e modernos filósofos chineses e tibetanos que somos o que pensamos, hoje a ciência prova-o, o pensamento tem influência na nossa vida e  faz até mudar os nossos rumos, influencia o nosso dia a dia.

Mas tal como encontro em Lobo Antunes,somos essencialmente memórias. Terrível isso, de não conseguirmos esquecer nada, às vezes bem queria, ter uma varinha mágica e eliminar ou poder fazer como se faz nos computadores, marcar e "delete"....infelizmente isso não é possível.
Queria ter a força de  Eckhart Tolle : 
 
“As pessoas não percebem que agora é tudo o que é, não existe passado ou futuro excepto como uma memória ou antecipação em nossas mentes”, in O poder do Agora.

Podemos nós viver sem o passado?? Podemos! se sofrermos de amnésia ou Alzheimer. Aí diz-se que nos esquecemos de nós e do nosso "eu" não foi construídos nos "agoras" que fazem o nosso passado??.
Eu sou muitos dias de agoras que passaram e fazem o meu passado e apenas uns segundos de agora. Logo, logo, o presente é passado. 

 "The ultimate truth of who you are is not I am this or I am that, but I AM" - Eckhart Tolle

Aqui concordo com ele, nós não podemos rotular-nos como sendo isto ou aquilo, nós somos e cada pessoa, cada homem é um mundo, pr mais semelhante do seu semelhante, sempre um mundo diferente.
Não há duas pessoas que pensem igual.

Mesmo os casais que vivem uma vida juntos, pensam muito diferente, mas a companhia do outro, faz parte do seu percurso, saem como e com que podem contar, sabem como vão reagir, sabem como raciocinam,  e isso dá-lhes um conhecimento do outro, mas não quer dizer que pensem igual.
A cumplicidade, a tolerância, a amizade, o profundo conhecimento que têm um do outro, lavam a vidas longas em conjunto. Isso na maioria das vezes é muito mais forte do que o amor, esse está lá e ambos têm o passado de lembranças da mesma paixão, a partilha dos tais agoras que fazem o passado conjunto.

Quem aqui vem, sabe que adoro filosofia. Vários são os meus filósofos de eleição. Dos mais recentes Ortega Y Gasset, mas sou existencialista até à medula.
Por isso me encantei com algumas das frases deste homem, que estou a conhecer que não é filósofo, mas desenvolve teorias filosóficas.
Na realidade nós só podemos existir agora, no momento que logo passa a passado e só existimos  porque os nossos órgãos trabalham,o sangue corre, o feixe de células que constitui o nosso tecido cerebral, processa, julga, faz a sua razão e,  nós guardamos ou não ligamos. Ao contrário do que muita gente julga, não registamos apenas o mais e o menos dos agoras, registamos tudo. Mas muitos são tão distraídos que vão passando na vida sem sequer tomar consciência do que são e do que fazem por aqui. Outros há, que registam tudo, até pormenores banais. Porque não somos iguais, nem todos temos a mesma capacidade de memória, ou não aprendemos a guardá-la. Nem o nosso cérebro é igual ao do nosso vizinho. Todos somos diferentes e como diz este senhor, nós somos!! Isto é : "I am "( eu sou).

Alguém que por aqui passa já leu algo de Eckhart Tolle ?  Estou a ler : "Um novo Mundo - despertar para a essência da Vida".
Não será um filósofo, mas um moderno guru, que tenta trazer paz a muita gente através de uma filosofia que veio desenvolvendo enquanto professor.
Tem algo que eu gosto, aceita todas as religiões,mas não tem nenhuma. Isso agrada-me sobremaneira, sinto-me em casa. Sou panteísta, o meu Deus é o universo onde tu e eu estamos e nos incluímos.

Se quiserem comentem.




  
Deepak Chopra ( à direita da imagem, a quem sigo quase diariamente há muito)   e Eckhart Tolle, que é um homem pequeno, se passasse por ele na rua certamente não reagiria, como reajo aos seus escritos.
Mais um dos meus conceitos que cai por terra, não sou apreciadora de homens pequenos. Mas é a tal coisa, julgar o livro pela capa. 

Immanuel Kant era pequeno e era um gigante. Muitos outros existiram, o mais conhecido talvez, Napoleão.

Preconceito apenas e eu ainda tenho muitos. Vão indo embora, com muita leitura e tomar consciência de que por mais que leia e aprenda, nunca saberei o tanto que sabem alguns eleitos e o tanto que existe para aprender.

A Idealização do Amor,



A Idealização do Amor

Eu estava a pensar na forma como se poderá entender o amor, à luz da minha formação. Da minha perspectiva, depende daquilo que o outro representa, se o outro é um prolongamento nosso, é uma parte nossa, como acontece muitas vezes, ou é uma idealização do eu de que falaria o Freud. No sentido psicanalítico poder-se-ia dizer que o amor corresponde ao eu ideal e, portanto, à procura de qualquer coisa de ideal que nós colocamos através de um mecanismo de identificação projectiva no outro.

Portanto, à luz de uma perspectiva científica, como é apesar de tudo a psicanalítica, o problema começa a pôr-se de uma forma um bocado diferente. Nesse sentido e na medida em que o objecto amado é sempre idealizado e nunca é um objectivo real, a gente, de facto, nunca se está a relacionar com pessoas reais, estamos sempre a relacionarmo-nos com pessoas ideias e com fantasmas. A gente vive, de facto, num mundo de fantasmas: os amigos são fantasmas que têm para nós determinada configuração, ou os pais, ou os filhos, etc.

(...) O amor é uma coisa que tem que tem que ver de tal forma com todo um mundo de fantasmas, com todo um mundo irreal, com todo um mundo inventado que nós carregamos connosco desde a infância, que até poderá haver, eventualmente, amor sem objecto. O amor não será, assim, necessariamente, uma luta corpo a corpo, ou uma luta corporal, mas pode ter que ver realmente com outras coisas, uma idealização, um desejo de encontrar qualquer coisa de perdido, nosso, que é normalmente isso que se passa, no amor neurótico, ou mesmo não neurótico. Quer dizer, é a procura de encontrarmos qualquer coisa que a nós nos falta e que tentamos encontrar no outro e nesse caso tem muito mais que ver connosco do que com a outra pessoa. Normalmente, isso passa-se assim e também não vejo que seja mau que, de facto, se passe assim.

António Lobo Antunes, in "Diário Popular (1979)"

Via Citador.pt/



Há poucos homens jovens que me virariam a cabeça. Talvez pela PDI, hoje eu seja diferente, mas nunca pensei igual. Acho que vamos sentindo atracção, mais pelo intelecto do que pelo físico.

Depois, há em Lobo Antunes como que uma criança perdida, o olhar e também as muitas memórias. 
Adoraria conhecê-lo e conversar com ele, saber o porquê de tanta angústia. Mas depois recordo-me de mim. Também eu sou muito de passado. E as marcas doem demais sim.




 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

O mundo tem de mudar, mas temos de querer que ele mude.





Ontem li um artigo sobre a indústria da carne nos Estados Unidos, que me perdoem  os que lá habitam ou os que  de lá são nativos, mas é dos piores pesadelos que existe em tudo. Falta de direitos humanos, falta de amor e indiferença que é pesada à tonelada, e a exploração de tudo. 
 
Coloco esta linda foto, porque não sou capaz sequer de olhar a outra de novo. É demasiado terrível.

Eu tenho lá família e garanto-vos que até eles se modificaram e estão bem mais "secos e indiferentes", porque poderá ser um país de oportunidades, para quem quiser vingar na vida e esteja preparado para ser pisado, viver clandestino, não ter direitos, não puder adoecer, comer toda a espécie de  "m****" / porcaria, sem saber de onde vem e como chegou ao seu prato ou dentro da suas sandes....

Meu próprio pai, viveu lá quarenta anos e precisou fugir, ele mesmo disse quando chegou, tenho de me purificar daquele país que aniquila até o coração mais puro.

Tive o azar de começar a ler o artigo e como sou extremamente curiosa, não consigo parar, mesmo sabendo que me vai fazer  sofrer.

Porque cada dia que passa tenho a consciência que o mundo tem de mudar, mas temos de querer que ele mude.

O tal artigo  focava sobre a industria de criação de animais, vitelos  mais especificamente.

E trazia uma foto, que não vou aqui colocar, ela parece um cemitério, com caixas que parecem caixões, mas não são, são a bestialidade que aquela gente arranjou para criar os borregos, que são tirados às mães mal elas os lavam depois da nascença, uma hora depois, os pobres, nunca conhecem o que é o sabor do leite materno, não conhecem o que é o calor de quem os trouxe ao mundo, numa cadeia infernal, de desprezo por toda a vida animal. E esse pobres animais, vão viver uns meses, fechados, sem nunca ver a luz do dia, sem se poderem mexer, nem movimentar, para que a carne fique tenra.


Quem me conhece há anos, desde criança, quando fiquei sem o meu pai porque foi à procura de outra vida fora de um país onde  havia uma ditadura de direita, sabe que dentro de mim, por esse facto gerou-se um certo ódio, por aquele país que, no que toca à minha vida, nada teve de culpa. Aprendi a ler  sobre tudo o que dizia respeito ao dito país, tenho lá irmãos e suas famílias, nunca tive desejo de lá viver.

A bestialidade com que tratam pessoas e animais salvo,  claro, os de bom coração que se enquadram nas mesmas fileiras  onde estou, de defesa dos desfavorecidos e dos sem voz, só me traz à cabeça um livro que desconheço o autor, onde alguém dizia que  o dito país tinha sido povoado,  como outros roubados aos povos nativos, por perjuros, meliantes e ladrões, assassinos que seriam até capazes de vender as suas mães.

O horror da bestialidade, traz-me sempre à cabeça o livro de Joseph Conrad,  que passado no interior de África, pode ser aplicado que nem uma luva, ao continente americano.



    " Sua escuridão era impenetrável. Olhava para ele como olharia alguém que se encontra no fundo de um precipício onde o sol nunca brilha."



    " O horror! O horror!"

Por culpa disto, esta noite foi apenas meio dormida e como sempre, partilho, por necessidade de esvaziar este sentimento que assola o meu coração, de tanta angústia, porque não consigo mudar o mundo, só a mim mudei.





"Coisa engraçada é a vida - misterioso arranjo de lógica implacável para um propósito fútil. O máximo que você pode esperar dela é algum conhecimento de si próprio... que chega tarde demais... uma colheita de inesgotáveis arrependimentos. (..). Se tal é a forma da última e definitiva sabedoria, então a vida é um quebra-cabeças maior do que alguns de nós supõem que seja. Eu estava milímetros da minha última oportunidade para fazer um pronunciamento, e descobri,com humilhação,que provavelmente não teria nada para dizer. Essa é a razão pela qual afirmo que Kurtz foi um homem notável. ele tinha algo a dizer. E disse. como eu próprio estive à beira do abismo, compreendi melhor o significado daquele seu olhar, que não podia ver a chama da vela, mas era amplo o suficiente para abraçar o universo inteiro, pungente o bastante para penetrar todos os corações que batem na escuridão. ele havia resumido - num juízo. ' O horror'" Joseph Conrad