quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

É tempo de Renascimento e de solstício de Inverno



Há pessoas que só porque somos diferentes acham que somos animais raros, ou pessoas estranhas, meio bruxas, meio alienadas, só pelo facto de o nosso "padrão" ter saído diferente na imaginária linha de montagem do tempo...tempo esse que não existe, é circunstância que o homem criou para datar os acontecimentos e linha de montagem que desconhecemos a origem, como se processa, quem a maneja, porque saem uns assim, como carta fora do baralho....ou será que afinal tudo não passa de ilusão e os deuses jogam mesmo aos dados??

E se eu tive uma educação católica quando criança, fiz tudo até à comunhão solene.
Com um pouco de esforço ainda recordo pedacinhos de algumas "orações" que fui obrigada a aprender, aliás, a decorar.Mas tudo fazia contra minha vontade, apesar disso, meu pai, ateu convicto, nunca impediu !
Tal como não impediu o baptismo de meus irmãos, porque apesar de ser um homem extremamente solitário, como eu aliás, ele adorava reunir família e amigos e essas eram ocasiões para o fazer, mesmo que nem por isso, pelo melhor motivo.
Quando aos 13 anos comecei a ler Virgil Georghiu, Tolstoi, Henry Miller, John Steinbeck, e todos os grandes clássicos, de Doistoievsli a Soljenitsin ( emprestados por um amigo mais velho com a promessa de nunca falar dos livros...) e logo em seguida, comecei a estudar Filosofia, foi como se uma cratera se tivesse aberto e tudo o que tinha aprendido em criança, deitei lá dentro. Tudo mudou dentro de mim, nunca mais fui a mesma, nunca mais igual. Tudo passou a ser tão óbvio e claro e perguntei-me como acreditam as pessoas em tanta mentira que estrutura a educação de muitas crianças ainda hoje, em pleno século XXI ?Por ter lido tanto sobre o Holocausto por exemplo, e sobre tudo o que se fazia nos campos, é que hoje me surpreende o procedimento de Israel em relação à Palestina. Como podem eles os judeus, que tanto sofreram, proceder daquele modo contra quem apenas tem outra religião?As minhas convicções são fortes e ninguém ou qualquer circunstância as vai abalar, ao contrário de meu pai, ateu convicto e que dizia que a Igreja é uma farsa e um covil de gente pecaminosa onde todos os grandes pecados são cometidos, eu sou panteísta, até ao núcleo de cada célula do meu corpo. Não quer com isso dizer que eu não festeje o Natal. Afinal ele simboliza a festa depois do Solstício de Inverno e o renascimento de tudo, da natureza, mas também de nosso corpo, tudo quanto existe, que de novo entra no ciclo de renascer, reflorir, brotar! É aí que as pessoas, algumas com quem convivo, não me entendem. Faz-me muita confusão as pessoas não aceitarem as convicções dos outros só porque não pensam igual.E eu adoro ser diferente!!
Boa quinta-feira a quem ainda passa aqui!!


Grata pelas mensagens, eu estou bem, há muito não me sentia tão bem.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Para mim Natal era antigamente !!




Cada ano que vai passando me vou afastando mais do que se chama a quadra, ou aliás, como as pessoas a vivem.
Para mim Natal era antigamente, em duas épocas distintas, mas muito importantes. 

Quando era criança e toda a família junta,  com pais, avós e tios, primos, tudo à mesa, tudo a ajudar a descascar batatas, abóbora, a arranjar os grelos e as couves, a descascar os nabos e as cebolas, a ajudar a avó a dar duas ou três voltas com a enorme colher de pau, à massa das filhós ou do pão ou da broa.. com  as jarras com azevinho e um pinheiro que se tinha ido cortar ( falta de consciência) aos nossos pinhais....e se enfeitavam de pompons de lã, bolinhas de algodão e os enfeites vendidos nas feiras.  
Quando se ia  com uma caixa de madeira buscar o musgo lá também aos pinhais e se trazia pinhas caídas para fazer a estrutura da gruta do presépio, ( para o menino Jesus não ter tanto frio....como dizia meu avozinho, católico fervoroso e temente a Deus.)...e o "cheiro"  do Natal  se misturava com o das filhós e rabanadas, coscorões e aletria. e o da comida que haveria de se comer depois da vinda da missa do galo...havia no ar, como que uma santidade, um perfume que jamais esquecerei.

Presépio, o de casa dos avós, que era feito no chão da sala da avó e toda a gente vinha ver de tão lindo.  E depois lá vinha o padre e o sacristão, buscar a dizima ou lá como se chamava, e comer umas e outras e beber vinho abafado que a avó fazia com ameixas e laranjas...tocavam a sineta,  à porta e lá entravam...quando acabavam a volta, o padre e o sacristão, estavam comidos para 48 horas... e que mal se tinham em pé de tanto cálice de abafado terem bebido... 

E depois quando já adulta e com a minha prole, tentava replicar as minhas recordações mas  num apartamento, já sem os tios, ou os avós, todos  há muito falecidos, mas com a família que eu tinha gerado.
Esses natais, eram também lindos, mas eu não sou hipócrita, não tinham a magia de outrora, onde a riqueza era tida como pecado....e eu não tinha sido capaz de transmitir aquele espírito que me deram a mim,  eu não o consegui passar...estes natais eram de prendas, de muito trabalho para mim ( só eu sabia fazer as coisas e dava a amigos e vizinhos que nunca tinham sido ensinados a fazer as doces iguarias)... durante anos, lá saíam de minha casa, apesar de ser uma jovem, travessas com filhós, coscorões e rabanadas,  para oferecer .

Com a idade e a minha consciencialização de que o mundo é falsidade e que tudo o que luz é tudo menos ouro, os natais foram esmorecendo. 

Os filhos deixaram de estar connosco, Uns porque criaram as suas famílias outros porque preferiam ficar com os namorados, e a quadra passou a ser vivida a dois e aos de quatro patas.
Por isso este ano ainda não enfeitei nada. 
De ano para ano. tem vindo cada vez mais para menos....claro que vou colocar algo, afinal Natal também é para estes que ainda cá estão. mesmo sozinhos e só com os filhos de quatro patas.

E ainda hei-se conseguir recriar, esses outros natais, os de antigamente, mesmo que apenas com amigos e vizinhos, quando voltar e for viver de novo para o campo. 

A nossa meta. minha e de meu companheiro de uma vida, ir viver na calma do campo,  antes de partir e virar pó estelar.
Mas antes disso, ainda havemos de experimentar estar num paquete e num hotel, para ver como vivem os outros, ao que a família também não está presente, ou que apenas querem comemorar mas sem se chatear a estar numa trabalheira infernal. Ao fim de uma vida de trabalho e tão pouco reconhecimento. temos esse direito. Merecemos.


Apesar de não crente, na verdade, o Natal não é de todo uma festa de família, é uma festa de renascimento e hoje eu sei melhor que ninguém que não se trata de religião, mas de vida, do que se fala no Natal. E nós queremos muito viver muitos mais anos e celebrar muitos outros Natais. Que é como eu acho, a festa da vida, do renascer, um solstício dá origem a uma nova etapa de vida ao renascer de tudo.

Por isso, desejo a todos os que ao longo destes anos aqui têm vindo ler o que escrevo ou  o que partilho,  um feliz Natal,  seja  esse período vivido a solo ou com muitos ao vosso redor, mas que seja de paz, de harmonia dentro dos nossos corações e que,  essencialmente, tenhamos saúde e esperança em dias melhores e por um mundo mais igual e sem guerra.


Feliz Natal amigos!!

GR






Arte naif de Alessandra Placucci

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Felicidade é uma questão de escolha


Podemos ter momentos de felicidade. Mas esse conceito tão em voga faz parte das modas e livros de auto ajuda. Há muito quem pregue para poucos e se convença que é para milhões. Infelizmente a maioria dos mortais humanos e animais nunca vai sequer imaginar o que significa "a felicidade é uma escolha"..... e para mim, entenda-se, nada tem a ver com posses materiais, metas atingidas, riqueza. 
Tem a meu ver, com o nosso íntimo e a paz interior que conseguimos atingir num mundo de infernos. E esses infernos até tantas vezes, fomos nós que lhe demos vida, lhes alimentámos as chamas, sem ter dado conta. As nossas escolhas, o caminho escolhido, sempre "nós"...poucos são os que não escolhem, esses são infelizmente escravos da sociedade, de si próprios ou na mais negra hipótese, alguém lhes tirou o direito de escolha e os reduziu.

Poucos chegam ao conceito de felicidade. A grande maioria julga que tem a ver com posse. Mas nada tem a ver com posse, nem da pessoa ou pessoas, com quem vivemos, nem com materialismos.
E tantas situações em que tentas abrir os olhos a quem já dependeu de ti para um caminho sem escolhos, mais leve, mas preferem escolher outro, e tu nada podes fazer. Porque as quedas e os
escolhos, fazem parte do crescimento.

Ninguém pode viver o nosso caminho. Pode acompanhar-nos, nas nunca vai encontrar as mesmas dificuldades, as mesmas pedras.
Assim como milhões se convencem que vivem e apenas respiram para vegetar, outros há que toda uma vida levam a cair e a levantar-se e nunca entendem que as suas escolhas estão erradas. Que precisam parar e mudar.
Todas as pessoas são diferentes. Na cor de olhos ou cabelo ... na educação e cultura, no ter muito ou pouco.
Tudo fica cá e se hoje tem valor, amanhã é sucata, terra, tijolo....areia. Só o que está na nossa mente tem valor e nos pode fazer almejar o estado de paz e felicidade !!!
Como diz Hermann Hesse in «Demian» : “A vida de todo ser humano é um caminho em direcção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro.”



Arte : Carola Vergara

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O perigo da generalização – a culpa é dos pais !!

O perigo da generalização – a culpa é dos pais !! Tornou-se vulgar colocar todas as culpas sobre os ombros dos pais e todos sacodem as responsabilidades dos seus ombros, porque só gostam de apontar e nunca ver-se reflectido no espelho. E porque há quem ainda adulto, continue a culpabilizar os pais e nada faz para se mudar a si mesmo. Os pais são culpados até do que nunca presenciaram ou souberam que se passou ou se vivenciou, das escolhas, dos namorados ou namoradas, do fracasso profissional, da falta de amor próprio e deixar andar coisas que deveriam ser tratadas porque elas demonstram precisamente o contrário do que eles apontam, que a culpa é sua e das suas escolhas e que os pais, por mais que falassem e avisassem, chegavam a ser gozados em conjunto com os irmãos e até amigos.
Ninguém cresce sozinho, é um facto, mas será que todos os Media e até a camada jovem de "iluminados" psicólogos que apenas leram os manuais e nada sabem da vida, muitos vivendo eles próprios em dependência dos seus familiares, nem casados ou sequer vislumbrando a ideia de serem pais, mas aventam e implantam ideias absurdas nas cabeças dos mais incautos ou pseudo intelectuais. Será que todos eles precisam ser tão absolutamente alheados das realidades e defendem a parte que parece ser a mais fraca, mas é de facto a déspota ?


Represento duas gerações e ainda a de minha mãe e avós, não recordo e felizmente tenho uma memória prodigiosa, de ver ou ouvir algum filho falar, responder ou ter qualquer tipo de acção recriminatória nas gerações para trás. Porque havia respeito, e hoje há uma enorme lacuna dessa virtude e ainda, havia vergonha, coisa que desapareceu nas recentes gerações. O meu tempo que não é só vivido na primeira pessoa, mas também por uma geração, a geração a que chamei de super sortudos mas também onde se deu demais, e se criaram muitos "encostados" muitos sem objectivos. Julgavam-se pequenos deuses e eram apenas pequenos déspotas. Basta ver as estatísticas, os jovens saem em média de casa dos pais pelos 34 anos. E cada vez há mais, que nunca saem e outros que não estudam e nem trabalham. Acho isso assustador. Quando têm esses pobres pais o tempo de viver a dois, de repousar da mesmice de problemas com os filhos que na maioria das vezes não são nem respeitosos, nem verdadeiros e muito menos bons filhos ?
Sobre os pobres pais, recaem sempre as culpas, apontadas pelos filhos, que os culpabilizam dos seus fracassos.




quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Ficar por casa


Estes dias e por força de circunstâncias da vida mas também pelas dores de garganta e cordas vocais meio roucas, é o que tenho feito mais....ficar em casa. Este verão a praia só foi visitada por mim duas vezes e uma nem desci à areia... sequelas de uma valente depressão que se abateu sobre mim desde Fevereiro.

Depois tudo parece recordar que há pessoas que já não estão na nossa vida. Há dias fez 13 anos que meu amado pai partiu. Depois o  aniversário da morte de minha irmã. E daqui a dias, seria o aniversário de minha mãe....e já seis meses que partiu... 
Parece que finalmente estou a ver uma luz ao fundo do túnel e espero começar a sair como antes, sem ser às compras ou a passear os cães. 

Estar sozinho em casa, só não nos faz pior se nos agarramos a trabalhos e a livros.
Quando suportamos dores e problemas sozinhos, sem ajuda de pessoas que julgávamos amigas e família, acontece que de tão fortes sermos e em tanta circunstância, ( a vida é tramada...), um dia quebramos e os cacos ficam no chão, até sermos capazes de os colar. Reuni-los, pegar neles e ir compondo de novo o vaso da vida. 

Não e tarefa fácil e é para poucos....

Já os colei, espero a cola secar... e anseio que não volte a quebrar....o meu vaso está já demasiado remendado e frágil, demasiado frágil !!!

 Ninguém merece as nossas dores, sofrimento, lágrimas. Os que já aqui não estão, esses certamente como fazendo parte da nossa vida e percurso, não haviam de querer lágrimas nos nossos olhos, nem nuvens no coração. 
Quem me amou e partiu só queria ver-me rir e sorrir. É isso que preciso voltar a fazer, sorrir para a vida e para quem está ao meu lado !!

Porque eu mereço !!!

terça-feira, 8 de agosto de 2017

A indiferença mata!!




Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa 
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.



Cecília Meireles, in 'Poemas (1957)'

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Segunda-feira!!


Até gosto de segundas-feiras... adoro recomeços, mudanças, tudo o que venha fora da estrutura, essa é firme e constante. Por isso gosto de segundas-feiras, que não passam de um dia igual aos outros, só que o homem dividiu o tempo e deu-lhe nomes. Dividiu o tempo, para se punir. Melhor fora se seguisse o calendário solar e lunar. Mas a ambição e o querer datar feitos que não passaram de carnificina e usurpação, de assassinatos e purga de "infiéis", precisou de os marcar com uma ordem cronológica. Mas o tempo só tem a si mesmo, o tempo e é linear....só faz mal a quem o tem como dono e senhor. 😞

Mas esta segunda-feira não está a ser como habitual. Como diria minha mãe, "estás neura"....é isso, o vento faz-me sentir nostalgia e esta leva à neura....e que me impede de ter as janelas abertas....Dormi mal e pouco. Sono breve e inquieto povoado de maus sonhos.
Aqui no bairro onde morro, as casas são grandes e mesmo as mais pequenas são grandinhas. Mas já não há casas para vender e vários são os edifícios com obras dentro dos apartamentos. 
Pior é que, quem como eu vive em horários diferentes, geralmente sai prejudicado. 
Precisava de ter dormido mais umas duas ou três horas. Só consegui dormir quatro. Pouco!! 
Começam cedo as obras no apartamento do edifício ao lado e andam a partir paredes....desde há mais de um ano que são só obras. Espero que um dia destes não venha nas notícias que o crédito mal parado subiu astronomicamente e que temos de salvar outro banco qualquer...


Depois é o sino da igreja, que bate e rebate as horas, as chamadas para a missa e, nem está perto, mas como estou na linha de vento, este traz até mim o som dos sinos e parece que estão aqui, junto à janela.
E os aviões, os tais deslocados da Portela para os aeródromos e que passam por cima e são cada vez mais e maiores.  😒
 
Que segunda-feira !!!!



segunda-feira, 31 de julho de 2017

Os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer


Há quem não aprecie  a escrita de Saramago. Apesar de muitos terem os seus livros jamais os leram, tantas  vezes  usados para "dar o ar " à estante lá de casa, livros comprados  através dos clubes de livros  ou que vêm nos jornais e de repente estão ali, na estante, sem uma única página aberta, ainda intactos. No entanto constato que cada vez mais há apreciadores cá e longe  de cá. 
Há quem por exemplo na Rússia, Ucrânia, China, se especialize numa área da literatura e muitas vezes a escrita de Saramago é a visada e objecto de estudo.
A minha experiência foi difícil com ele. O meu primeiro livro dele, li-o e reli-o várias vezes seguidas. Até conseguir perceber como tinha de ler a sua escrita. É como se estivéssemos a ler os pensamentos e neles não há pontuação, somos nós que a fazemos. 
Confesso que hoje sou ávida leitora dele e esta obra, O Memorial do Convento, foi lida devagar. Ao contrário de Levantado do Chão, o primeiro...."… ( "Tanta paisagem. Um homem pode andar por cá uma vida toda e nunca se achar, se nasceu perdido"). Lida e relida. 
Portugal deveria ter particular atenção por todos os que engrandeceram a nossa História, nas diferentes artes. Em particular a escrita. 
Depois de ter aprendido a lê-lo, é talvez dos meus autores preferidos. Cada vez que pego um livro dele, lá está uma frase que fica  e esta, é absolutamente fantástica : ..."os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer..."
“Quando o tempo levantou, passada uma semana, partiram Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas para Lisboa, na vida tem cada um sua fábrica, estes ficam aqui a levantar paredes, nós vamos a tecer vimes, arames e ferros, e também a recolher vontades, para que com tudo junto nos levantemos, que os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer, isso mesmo fizemos com o cérebro, se a ele fizemos, a elas faremos, adeus minha mãe, adeus meu pai”
do Memorial do Convento de José Saramago
Não há nada como ganhar asas, já lá diz o ditado, ler é como viajar, nunca sais a perder.
Imagem encontrada através do google imagens


domingo, 30 de julho de 2017

Os que nos desgovernam




Sou velha demais para ter medo, se não o tive em tempos idos , jamais será o tempo de o ter.
Portugal é uma país lindo demais mas onde o colonialismo está vivo e latente dentro de um Estado e país que vive de estatutos...doutores e engenheiros, professores etc, onde as pessoas deixaram há séculos de ser tratadas pelos seus nomes de família e usam os estudos que têm, tantas vezes sabe-se lá como os conseguiram ( não é apenas na era de Relvas e Sócrates que se compravam cursos, é prática corrente e muitas obras o mostram), mas mesmo assim, os pobres coitados, adoram ser chamados pelos seus títulos académicos mesmos que e, sem me repetir, o título tivesse sido por passagens administrativas ou porque o paizinho ou avô o comprou... tais. uma sociedade podre.

Professores que ensinam o que lhes convém, gente medíocre a todos os níveis que só porque ou é algo que é reconhecido pelo rebanho de gente onde está inserido ou. ainda porque arranjou um tacho num programa de televisão, esses todos, se julgam superiores. Mas não são.
Esses são a escória do novo século.
Século que se quer numa verdadeira e fraterna amizade global, de verdadeira igualdade, onde todos sejamos iguais qualquer que seja o credo, qualquer que seja o género , qualquer que seja o estatuto social que, a cumprir-se os estatutos da constituição de Abril, todos seriam iguais perante a lei, todos seriam iguais em todas as diferentes características da sua vida.

Mas tal como não é verdade em África, não o é por terras lusas, onde muitos dos que mandam na nação nem sequer foram nascidos no território ou são descendentes de outros que não nasceram cá e, muitos são tudo menos cidadãos comuns.
Para isso basta ter dois olhos para ver e ler e dois dedos de testa para entender.
Infelizmente, o povo é sereno e de brandos costumes, foi para Salazar e vai continuar a ser. E quem mais manda é quem menos merece mandar.
A minha própria passagem pela universidade numa segunda vez e, aos cinquenta anos, me mostrou que o sistema está montado para alguns. É podre e corrupto. Antigamente só estudava quem tinha poder económico, hoje pouco mudou....e os de então, são quase os mesmos que ensinam há décadas e com as mesmas "palas".

Perguntaram-me há tempos porque não votei no ex reitor, a que eu respondi que ele foi o culpado de se ter vergado e aceite o processo de Bolonha. Mas não só, isso apenas uma entre as muitas coisas em que lhe não reconheço mérito. Porque não o tem!
Não apenas a ele, mas a institutos que têm fundações por trás e onde a sacanagem é o mote de vida e as pretensas elites, ou são fruto do colonialismo ou das novas versões de género.
São esses que ensinam a nós e aos nossos filhos e netos, porque na realidade, a trampa não mudou,. o que mudaram foram mesmo as moscas, estas vieram de países longínquos onde Portugal colonizou, mas a trampa, são esses que fazem agora, por cá.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Há sempre qualquer pequena tragédia a acontecer nas nossas vidas



Há sempre qualquer pequena tragédia a acontecer nas nossas vidas!!

Muitas até temos vergonha de as mencionar a nós próprios de tão avassaladoras e pujantes.
Entram em nós como punhais, e as feridas, umas vão sarando, outras ficam sarando por anos e ainda há outras que sararam mas deixaram marca, o queloide na pele, para que nunca esqueçamos que saímos vitoriosos daquela mágoa.



Imagem daqui : https://www.las2orillas.co/armero-la-tragedia-se-pudo-evitar/



Precisamos de milagres





Todos esperamos por milagres e a cada dia das nossas vidas.
Quanto mais não seja por outro dia, por um telefonema, por uma reconhecimento, por um obrigada, seja o que for !
Sempre esperamos por milagres. Poucos têm capacidade de o reconhecer.

https://youtu.be/lL2DzqrUNQc/




sábado, 18 de março de 2017

O céu existe mesmo

As pessoas que me são mais próximas sabem que tenho ido todas as semanas, nem que seja por uma ou duas horas à antiga casa de minha mãe, recentemente falecida. Já já estive mais, mas foi logo ao início, ela fumava muito e a casa tem um cheiro terrível a tabaco que se entranhou em tudo. Tenho a pouco e pouco, arejado e lavado panos e almofada, e ainda há um montão de tanta coisa para lavar e colocar ao sol, para tirar o odor horrível.
Mesmo com o odor a tabaco, tudo e foram já muitos sacos, tudo o que coloco ao lado do contentor, alguém leva. Ainda bem, assim damos sem olhar a quem. Acredito que é assim que se deve dar.
Quem dá não precisa de reconhecimento se o fizer com o coração, mas há quem precise de ver a menção do seu nome nos agradecimentos, alguns até com valores em dinheiro, isso não é dádiva, é exibicionismo.
Tínhamos por vezes, mesmo ao telefone, acesas discussões sobre tudo e nada. Eu sou panteísta e à minha maneira acredito que um "Nirvana" é possível, mas a imagem de um céu redentor e um inferno castigador, não passa por mim. Até porque e apesar de educada na religião católica, ao chegar à adolescência e ter começado a ler tudo o que aparecia, e ter tido a sorte de ser orientada nas leituras, cheguei à conclusão que as religiões são todas invenção do homem, que alguns se basearam nas escrituras que alguém escreveu etc.
Em casa de minha mãe, ficava a imagem de Maria, todos os quinze dias e havia rezas de amigas etc.... era extremamente Mariana. Confesso, e não tenho problema em o admitir, quando era praticante da religião, também eu era mariana.

Minha mãe tinha grande desgosto do meu afastamento da religião e então eu dizia-lhe, não foi da religião que me afastei, porque aceito todas e respeito, foi da igreja.
Tanto pecado camuflado, tanta riqueza quando há tanta fome no mundo, tanta ignomínia que tenho vergonha de algum dia ter assistido e frequentado.
No entanto, eu própria procuro as igrejas vazias. Transmitem-me calma e acredito que seja pela corrente de fé que existe no local.
Mas tudo isto para vos dizer que, minha mãe andava a ler um livro, que é " O céu existe mesmo" ...ia na página 96, ou deixou-a marcada para mim. Mas pior, encontrei uma dedicatória escrita por ela " Será que agora acreditas G..."....escusado será dizer que estou a ler o livro e freneticamente.
Como pode uma criança que ainda nem quatro anos tem, dizer aquelas coisas, invenção??
Confesso que fiquei petrificada....ainda estou e, como vos disse no início de Fevereiro, estou a descobrir, sem a presença dela, uma outra pessoa, que era minha mãe e a quem todos amavam, amiga de tanta gente e que oferecia chocolates, chupas e bombons, às crianças e andava sempre com um saco de guloseimas para oferecer aos filhos e netos das amigas, e fazia coisas às amigas, picots nos paninhos de cozinha ou nas toalhas de pequeno almoço, que fazia tanta coisa a que pouco assisti...
Por tudo isso já vai em um mês e meio e pouco mexi na casa, têm sido estas coisas pequenas e cartas, escritos em envelopes etc que me prendem os olhos.

GR

sexta-feira, 3 de março de 2017

As redes sociais e não só pejadas de gente vazia!

Cansa-me as pessoas serem tão vazias de sentimentos. E nas redes sociais é o que mais se vê, é tudo menos o que deve ser.
Felizes os que acham que a vida é flores e passarinhos, quadrinhos e outras merdinhas do estilo. Triste é tu te veres obrigado a teres várias páginas onde sob outros dos teus nomes, possas ir aliviando a carga de emoções. As pessoas não querem saber se milhões de animais são chacinados todos os dias para dar de comer a bestas que querem ter as geladeiras repletas de pacotes de carne.
Não querem saber se há crianças escravizadas que trabalham doze horas nas minas e aos doze estão contaminados nos rins e bexiga e raramente chegam aos vinte.
As pessoas querem é bonequinhos que lhes encham os egos nas suas vidas de treta, vazias, onde se expõem depois de vários retoques nas imagens e de duzentas escolherem uma, que mostra mais a perna, a mama, o que comprou a cinquenta prestações mas é novo lá para casa, .....enfim!!
Cansa-me a beleza tanta porcaria que vinga por aí e que se acha gente.
Farta-me, esgota-me e eu preciso fugir dessa gente como certamente o hipotético diabo, fugiria da cruz, não fossem mais invenções de gente pequena.
E canso de ter tanta flor, tanta gente a pedir para colocar o nome, fujo de gente medíocre, de banalidades.
A vida é tão mais do que isso. Pena que nunca cheguem lá. Não têm culpa, não dá para mais.
Querem eles e elas saber se há milhares de animais ao frio, outros que levam onze longos minutos para morrer quando lhes é arrancada em vida a pele que lhes vai fazer a gola para o casaco....
As pessoas não podem ser todas iguais, uns nascem como diz Saramago, com um coração de carne e sangue e que sangra, outros nascem com coração de ferro, bom proveito.
Querem eles e elas saber se há milhares de animais ao frio, outros que levam onze longos minutos para morrer quando lhes é arrancada em vida a pele que lhes vai fazer a gola para o casaco....
Cada vez mais odeio certa gente, e são milhares se não milhões a quem não suporto. Gente hipócrita, falsa que só olha para si e para o seu umbigo, e porque se acham, pensam, pobres coitados ignorantes, que são o centro de alguma coisa e que as pessoas gravitam em volta deles, mas só vejo mesmo trampa a gravitar à volta deles, outros trampas iguais.
Por isso esta página adormecida há anos é agora refúgio,
E se você não gostar do que escrevo, por favor, faça o favor, não irei ficar nada chateada.
Só não quero é os tais por aqui. Fazem-me mal. Dão-me espasmos nos intestinos.

GR
Imagem: http://kiratakuto.deviantart.com/art/Alene-i-skoge

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Odeio Carnaval

Hoje é carnaval e cá em casa ainda há uma pessoa que dorme a esta hora e eu já trabalhei umas seis horas.
O dia está cinzento, já brilhou o sol, mas foi por pouco tempo.
A casa foi invadida por uma espécie de silêncio.
Em volta e no condomínio em frente da parte norte, parece que virou túmulo. Mas há gente em casa, há vários carros estacionados no parque.
No meu edifício, ouve-se ao longe uma qualquer máquina de lavar, os pios das rolas nas traseiras, a máquina de secar ao fundo da cozinha a uns 20 metros de distância e que por isso, chega mais ou menos em surdina.
Uma avioneta que levantou voo de Tires e passa próximo.os pombos que se desunham sobre a pimenteira nas traseiras, para ver quem se aventura a vir ao parapeito da janela onde estão as sementes de girassol que tanto gostam...
Há como que uma beatificação do espaço que me envolve.
Odeio carnaval. Odeio circo. Odeio tudo o que é a exploração, seja do ser humanos, seja dos animais.
Penso igual a Vergílio Ferreira, os homens adoram carnaval, porque é aí, não que se mascaram, mas pelo contrário, desmascaram-se....
Cada vez mais tenho necessidade de entregar ao papel o que vai num dos quartos do meu ser, porque são muitos. E cada quarto seus segredos e enigmas. Alguns fechados a sete chaves e a chave jogada ao mar.
Ao contrário das outras pessoas, o carnaval para mim é símbolo de tudo menos alegria. É como que uma dança maqueavélica, dionisíaca que nunca precisei dançar, porque nunca permiti que meu coração fosse invadido pelas trevas.
Como refere Saramago, se o teu coração é de ferro, bom proveio, o meu fizeram-no de carne e sangue e sangra. O meu é igual.
Nunca quis saber de coisas estranhas e de maluquices.
Houve um tempo da minha vida em que me deixei arrastar por alguns "amigos", para umas quantas maluquices, como ir dançar à meia noite para o Founder's Inn ou ir ao Autódromo etc. Onde nunca entrou droga, isso nunca!!
Mas bom mesmo, era fazer o roteiro dos cinemas mesmo em Cascais. Cinemas que já não existem.
Ia-se ao S. José às 9 da noite e depois ao Palácio à meia noite, acaba-se ceando no Trem velho, junto à estação de comboios.
Ou ao Ryade e depois a outro qualquer, jantando nos Doze na Rua Direita. Isso era o que gostávamos mesmo e sempre gostámos. Ou ir até ao Trem velho beber uns gins e acabar jantando por lá...nada que metesse carnaval.
Foi tudo aquilo que foi cimentando uma cumplicidade que ultrapassa amizade e amor, ou paixão. E tudo sempre com o meu silêncio pelo meio, porque ao contrário de outros, eu alimento-me dele.
E quando dei por isso, quem me acompanhava, já então meu marido, me disse que achava tudo aquilo uma parolice, uma depravação e que nós dois éramos muito mais do que aquilo. E parámos.
Há pessoas que precisam de tanta coisa porque nunca se deram conta de que estão sozinhas, na maior solidão.
Eu não, nunca estou só. Mesmo quando estou sozinha, o meu cérebro é uma orquestra, nunca serena, nunca pára. Vibra, ressoa e cria.
Por tudo isso eu odeio carnaval.
Carnaval é solidão, é tirar a máscara que toda a gente leva o ano inteiro, fingindo o que não se é.
O privilégio de ter este silêncio que só acaba quando coloco nos ouvidos os auscultadores ligados ao Youtube e vou ouvindo as minhas músicas de eleição. Esse silêncio é mesmo o que me apega a esta casa de mais de trinta anos, parcialmente virada a norte e por vezes fria, com uma luz inigualável, sem estrada perto, pelo menos onde estou na parte nordeste, sem gente barulhenta, apenas com o pios dos inúmeros e muito raros pássaros que por aqui passam, dada a aproximação de quintas e árvores centenárias que vejo da minha janela. Silêncio que vale mais do que o ouro, mais do que tudo e faz parte de mim. Onde me envolvo e vivo, serenamente sem pressa...tomara durasse para sempre.


GR

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Perdi quem me deu a vida



Um sereno sábado a todos, porque sem paz e serenidade a vida é um tormento.  E eu preciso dessa serenidade e dessa paz para  repor tudo o que foi abalado em mim. Não apenas pela perda de alguém que nos dá a vida. Mas porque durante toda uma vida não houve diálogo, existiu afastamento e ontem nem sequer consegui fazer a despedida que queria. 
Tudo demasiado rápido, tudo  sem compaixão sem sentimento pelo luto dos outros. Tanta coisa que precisava de ter sido  esclarecida porque um  ser ( reparem que não escrevi mãe) que não amava os seus filhos. Talvez não acreditem mas eu preciso dizer isto e escrevê-lo ...eu queria ter falado com minha mãe em silêncio para entender ou tentar entender o porquê de não se beijar um filho e haver um afastamento tão grande.
Minha mãe nunca me amou, nem a mim nem a meus irmãos. Fomos todos desprezados, a mim nunca abraçou ou deu um beijo. Poderia esconder isto, podia, mas preciso expurgar a dor que me vai dentro por não ter sido amada, nunca senti um beijo, um abraço, um carinho.

De toda uma enorme família eu fui a única que fui ao enterro mas nem sei porque lá fui.

Ao contrário do que podem pensar, não teve a ver com a dor da perda. Teve antes pelo contrário por nunca mais  poder saber o porquê de se ter filhos e não se amar esses filhos.
Ficou para sempre sem resposta.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Pode parecer parado por vezes, mas eu estou cá.



Tenho poucos seguidores, poucas leituras.
Mas alguns desde o início.
Por isso devo explicações. Estou a pensar criar um novo blogue. Este não irá ficar adormecido ou morto. Desde início que esvazio o que vai dentro de mim aqui,  muitas vezes confesso que escondo o que escrevo. Tenho usado o blogue como uma espécie de terapia.
Muitas vezes parece que não venho cá, mas venho, escrevo, mas não publico. Por isso este blogue não vai fechar. Pode parecer parado por vezes, mas eu estou cá.

Gostava de ter um outro, apenas com textos e poemas, notícias. Adoro História, Astronomia, descobertas científicas, adoro tudo sobre o universo, excertos de livros que estou a ler ou li, ideias. Coisas que quero que fiquem escritas e organizadas. Para não me perder em tanta coisa que vai dentro de mim.
Na meia idade pareço uma adolescente! Tenho tanto para fazer e dei-me conta que não me resta outro tanto de vida. Tomara pudesse ter. Mas não depende só de mim...
Por isso, mal tenha o outro blogue, se é que o vou abrir ou se coloco aqui, vos direi ou não.

Quero agradecer muito a quem vai não vai passa por aqui. Sabem que eu sei quem são, basta ter um contador de visitas  para sabermos quem e como nos leem. E os browsers e locais onde estão.
Por isso se quiserem, comentem.



Que um monte de coisas boas chegue até vós.
Bom fim de semana!!


Estou num cansaço só!!





Estamos a uma nesguinha de ser de novo sexta-feira....sinceramente a sensação que tenho é que me falta tempo para tanto que tenho para fazer. Parece que o início do ano não está a ser produtivo.
Vou  mesmo ter de fazer várias pausas para levar o ano e tentar resolver um sem número de coisas !

Este ano vou precisar de  algumas pausas e auto retiros. Isolamentos, sem sequer a obrigação de olhar ou falar a alguém. Estou tão cansada que preciso urgente desse tempo para mim!!


E férias, mas férias a sério, sem horários e sem obrigações.
Preciso de organizar a minha cabeça, para ver se arranjo hipótese de que tudo se encaixe. eu tudo o que quero ver concretizado, seja possível de solução.

Arrastar assuntos só nos traz desgaste. Desgaste físico e psicológico, insónia, insegurança, falta de perspectivas e de concretização.
Nos sessenta anos, não me posso dar a esses luxos, tudo tem de ser agora! E há pessoas que há muito  mais de metade da minha vida dependem de mim e nada fazem para mudar.
Estou sem alento para esta situação!!







Falta-me tempo para tudo! Até para viver!!