quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

É tempo de Renascimento e de solstício de Inverno



Há pessoas que só porque somos diferentes acham que somos animais raros, ou pessoas estranhas, meio bruxas, meio alienadas, só pelo facto de o nosso "padrão" ter saído diferente na imaginária linha de montagem do tempo...tempo esse que não existe, é circunstância que o homem criou para datar os acontecimentos e linha de montagem que desconhecemos a origem, como se processa, quem a maneja, porque saem uns assim, como carta fora do baralho....ou será que afinal tudo não passa de ilusão e os deuses jogam mesmo aos dados??

E se eu tive uma educação católica quando criança, fiz tudo até à comunhão solene.
Com um pouco de esforço ainda recordo pedacinhos de algumas "orações" que fui obrigada a aprender, aliás, a decorar.Mas tudo fazia contra minha vontade, apesar disso, meu pai, ateu convicto, nunca impediu !
Tal como não impediu o baptismo de meus irmãos, porque apesar de ser um homem extremamente solitário, como eu aliás, ele adorava reunir família e amigos e essas eram ocasiões para o fazer, mesmo que nem por isso, pelo melhor motivo.
Quando aos 13 anos comecei a ler Virgil Georghiu, Tolstoi, Henry Miller, John Steinbeck, e todos os grandes clássicos, de Doistoievsli a Soljenitsin ( emprestados por um amigo mais velho com a promessa de nunca falar dos livros...) e logo em seguida, comecei a estudar Filosofia, foi como se uma cratera se tivesse aberto e tudo o que tinha aprendido em criança, deitei lá dentro. Tudo mudou dentro de mim, nunca mais fui a mesma, nunca mais igual. Tudo passou a ser tão óbvio e claro e perguntei-me como acreditam as pessoas em tanta mentira que estrutura a educação de muitas crianças ainda hoje, em pleno século XXI ?Por ter lido tanto sobre o Holocausto por exemplo, e sobre tudo o que se fazia nos campos, é que hoje me surpreende o procedimento de Israel em relação à Palestina. Como podem eles os judeus, que tanto sofreram, proceder daquele modo contra quem apenas tem outra religião?As minhas convicções são fortes e ninguém ou qualquer circunstância as vai abalar, ao contrário de meu pai, ateu convicto e que dizia que a Igreja é uma farsa e um covil de gente pecaminosa onde todos os grandes pecados são cometidos, eu sou panteísta, até ao núcleo de cada célula do meu corpo. Não quer com isso dizer que eu não festeje o Natal. Afinal ele simboliza a festa depois do Solstício de Inverno e o renascimento de tudo, da natureza, mas também de nosso corpo, tudo quanto existe, que de novo entra no ciclo de renascer, reflorir, brotar! É aí que as pessoas, algumas com quem convivo, não me entendem. Faz-me muita confusão as pessoas não aceitarem as convicções dos outros só porque não pensam igual.E eu adoro ser diferente!!
Boa quinta-feira a quem ainda passa aqui!!


Grata pelas mensagens, eu estou bem, há muito não me sentia tão bem.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Para mim Natal era antigamente !!




Cada ano que vai passando me vou afastando mais do que se chama a quadra, ou aliás, como as pessoas a vivem.
Para mim Natal era antigamente, em duas épocas distintas, mas muito importantes. 

Quando era criança e toda a família junta,  com pais, avós e tios, primos, tudo à mesa, tudo a ajudar a descascar batatas, abóbora, a arranjar os grelos e as couves, a descascar os nabos e as cebolas, a ajudar a avó a dar duas ou três voltas com a enorme colher de pau, à massa das filhós ou do pão ou da broa.. com  as jarras com azevinho e um pinheiro que se tinha ido cortar ( falta de consciência) aos nossos pinhais....e se enfeitavam de pompons de lã, bolinhas de algodão e os enfeites vendidos nas feiras.  
Quando se ia  com uma caixa de madeira buscar o musgo lá também aos pinhais e se trazia pinhas caídas para fazer a estrutura da gruta do presépio, ( para o menino Jesus não ter tanto frio....como dizia meu avozinho, católico fervoroso e temente a Deus.)...e o "cheiro"  do Natal  se misturava com o das filhós e rabanadas, coscorões e aletria. e o da comida que haveria de se comer depois da vinda da missa do galo...havia no ar, como que uma santidade, um perfume que jamais esquecerei.

Presépio, o de casa dos avós, que era feito no chão da sala da avó e toda a gente vinha ver de tão lindo.  E depois lá vinha o padre e o sacristão, buscar a dizima ou lá como se chamava, e comer umas e outras e beber vinho abafado que a avó fazia com ameixas e laranjas...tocavam a sineta,  à porta e lá entravam...quando acabavam a volta, o padre e o sacristão, estavam comidos para 48 horas... e que mal se tinham em pé de tanto cálice de abafado terem bebido... 

E depois quando já adulta e com a minha prole, tentava replicar as minhas recordações mas  num apartamento, já sem os tios, ou os avós, todos  há muito falecidos, mas com a família que eu tinha gerado.
Esses natais, eram também lindos, mas eu não sou hipócrita, não tinham a magia de outrora, onde a riqueza era tida como pecado....e eu não tinha sido capaz de transmitir aquele espírito que me deram a mim,  eu não o consegui passar...estes natais eram de prendas, de muito trabalho para mim ( só eu sabia fazer as coisas e dava a amigos e vizinhos que nunca tinham sido ensinados a fazer as doces iguarias)... durante anos, lá saíam de minha casa, apesar de ser uma jovem, travessas com filhós, coscorões e rabanadas,  para oferecer .

Com a idade e a minha consciencialização de que o mundo é falsidade e que tudo o que luz é tudo menos ouro, os natais foram esmorecendo. 

Os filhos deixaram de estar connosco, Uns porque criaram as suas famílias outros porque preferiam ficar com os namorados, e a quadra passou a ser vivida a dois e aos de quatro patas.
Por isso este ano ainda não enfeitei nada. 
De ano para ano. tem vindo cada vez mais para menos....claro que vou colocar algo, afinal Natal também é para estes que ainda cá estão. mesmo sozinhos e só com os filhos de quatro patas.

E ainda hei-se conseguir recriar, esses outros natais, os de antigamente, mesmo que apenas com amigos e vizinhos, quando voltar e for viver de novo para o campo. 

A nossa meta. minha e de meu companheiro de uma vida, ir viver na calma do campo,  antes de partir e virar pó estelar.
Mas antes disso, ainda havemos de experimentar estar num paquete e num hotel, para ver como vivem os outros, ao que a família também não está presente, ou que apenas querem comemorar mas sem se chatear a estar numa trabalheira infernal. Ao fim de uma vida de trabalho e tão pouco reconhecimento. temos esse direito. Merecemos.


Apesar de não crente, na verdade, o Natal não é de todo uma festa de família, é uma festa de renascimento e hoje eu sei melhor que ninguém que não se trata de religião, mas de vida, do que se fala no Natal. E nós queremos muito viver muitos mais anos e celebrar muitos outros Natais. Que é como eu acho, a festa da vida, do renascer, um solstício dá origem a uma nova etapa de vida ao renascer de tudo.

Por isso, desejo a todos os que ao longo destes anos aqui têm vindo ler o que escrevo ou  o que partilho,  um feliz Natal,  seja  esse período vivido a solo ou com muitos ao vosso redor, mas que seja de paz, de harmonia dentro dos nossos corações e que,  essencialmente, tenhamos saúde e esperança em dias melhores e por um mundo mais igual e sem guerra.


Feliz Natal amigos!!

GR






Arte naif de Alessandra Placucci